domingo, 8 de novembro de 2009

Directos




Começaria então por dizer que sou um fã insaciável dos directos. De reportagens também mas, e, fundamentalmente porque o que acho é irrelevante para a Comunicação Social, o que mais me agrada têm de ser mesmo os directos.

Em boa verdade se diga também que estou a ficar sem grandes opções, pois desde que se descobriu que os directos são, afinal, um mercado bem mais rentável no que concerne à angariação de audiências, que estes se têm multiplicado como teorias da conspiração têm nascido, no último século de existência humana.

Mas o que eu pensava era que os directos serviam, na sua essência, para informar as pessoas sobre algo verdadeiramente pertinente e de interesse público inquestionável. Afinal enganei-me. Se o lapso foi meu, pouco mais me resta do que, e, com toda a humildade que me for permitida, vos pedir as mais sinceras desculpas. Se não tiver sido esse o caso, bom, fico a matutar sobre o sentido de algumas das palavras proferidas pela Maitê Proença relativamente aos portugueses e que tanta polémica suscitaram recentemente, em Portugal. Pois a verdade é que os jornalistas brasileiros entendem bem melhor a diferença entre estes dois conceitos: - Reportagem e Directo.

Aproveitaria também e, porque o assunto assim puxou para esse lado, para vos fazer uma questão. Será o Scolari vidente? Afinal ele bem que dizia naquele célebre reclame da CGD: «Pingolim é Matraquilhos.»; «Aero-Moça é Hospedeira»; «Torcida é claque».

Seria isto um aviso aos portugueses?!... Saberia ele, já naquela altura, que o português é péssimo na aplicação dos termos correctos? Daí ter arquitectado o paralelismo entre conceitos linguísticos dissemelhantes, todavia, que querem dizer no seu sentido específico rigorosamente a mesma coisa?!...

Enfim… Nunca se há-de saber ao certo não é? Talvez seja mais provável vir um dia a descobrir se, efectivamente, algum conteúdo de uma, entre várias outras teorias da conspiração tem, de facto, algum fundamento…

Saudações muito, mas mesmo muito indeferidas a todos vós. (--,)

8 comentários:

  1. Sempre pensei o mesmo, isto é, sempre julguei que os directos seriam para informar o publico de algo realmente importante e que teria custos extremamente onerosos para os canais de televisão. Aparentemente, e como o vosso vídeo demonstra, esses directos são utilizados para promover a pescadinha de rabo na boca, almoços no ar ou até mesmo para transmitir imagens confusas de um suposto regresso a Portugal, para gozo de férias, de um treinador de futebol (refira-se neste caso que, apesar da personagem não me dizer nada, o Santana demonstrou ter os tomates no sitio marcando uma posição inequívoca de repudio pela situação criada pelo canal de televisão.
    A mim parece-me que que o estado da comunicação social em Portugal se encontra entre a fossa de uma qualquer pecuária e a sarjeta urbana, emitindo constantemente uma espécie de gás pernicioso que me causa um certo prurido na pele. No entanto, se tivermos em conta a qualidade do ensino da comunicação social em Portugal, devo dizer que esta constante diarreia comunicativa não me surpreende, nem tão pouco cria em mim a tão tradicional sensação de sebastianismo; de salvador da pátria ferida pela frivolidade dos órgãos de comunicação social.

    Um bem haja e continuem

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  2. Pois, e eu fui simpático devo confessar, porque encontrei uns quantos ainda mais escandalosos. Concordo plenamente contigo, acho que os órgãos de comunicação em Portugal andam com umas flatulências esquisitas...

    Penso que já era altura de se começar a fazer jornalismo decente. Aliás, acho que esse até nem é o grande problema, falta de pessoal competente. A meu ver é a velha questão de sempre, rentabilidade.

    Numa sociedade de "entertainment", dificilmente se conquistam audiências com material digno de credibilidade. As pessoas habituam-se de tal forma a levarem com conteúdos qualitativamente pobres que se acomodam a desenvolver os seus raciocínios em torno do que vêem.

    Perigoso?... Sim, bastante. Permitir que nos encham a mente com material duvidoso e quase sem pedagogia alguma é estar, ainda que no silêncio, a acenar que sim com a cabeça, permitindo, dessa forma, que os media possam manipular cada vez com maior facilidade as futuras gerações. (que pelo andar da carruagem não serão lá muito inteligentes, diga-se de passagem...)

    A informação que passa nos supostos canais não pagos, deveria, por obrigação, ser a de maior qualidade. Mas não é isso que se passa. Quem quer estar bem informado tem de recorrer a canais pagos, ou fontes alternativas e quase sempre também pagas. Parecendo que não estamos diante de um fenómeno de exclusão social, onde só as minorias têm direito a receber algum conhecimento decente...

    A ignorância é aceitável, pois nem todas as pessoas podem, por diversas e diferentes razões, estar ao mesmo nível intelectual. No entanto, é necessário que haja boa informação. Isto é um passo básico para o fortalecimento de uma sociedade. Se nem todos têm tempo para se informarem à sua maneira, o mínimo que se pode pedir aos media, é que estes informem com qualidade as pessoas durante o pouco tempo de que estas dispõem para serem informadas.

    Cumprimentos.

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  3. De acordo.
    Essa minoria, ou elite é, quanto a mim, o escaparate de uma sociedade altamente capitalista onde quem tem dinheiro é informada com qualidade, enquanto os que não têm poder monetário optam, sem remédio algum, por consumir conteúdos estupidificadores que os mantêm na mais pura ignorância. Então, será objectivo das elites dominantes a perpetuação do estado de ignorância das minorias reprimidas?
    Diga-se, a bem da verdade histórica, que a ignorância é um dos alicerces dos regimes totalitários.
    Fica a questão.
    Cumprimentos

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  4. Nem mais, nem mais. Não vejo muito mais saber nos programas de entretenimento da actualidade do que nos filmes clássicos, oriundos curiosamente, do período de consagração salazarista.

    Numa sociedade onde supostamente haveria maior poder de expressão, confesso que me causa um pouco de confusão...

    Das duas uma, ou não vivemos num regime tão livre quanto isso, o que seria grave. Ou vivemos, e a culpa é do comodismo dos cidadãos que, não se exaltando para reivindicarem direitos essenciais como o direito de serem dignamente informados e servidos, acabam por não fazer jus à conquista dessa liberdade...

    O que me irrita é que nem era preciso fazer disto uma guerra, bastava as pessoas não consumirem tudo o que lhes metem à frente dos olhos. Acho que seria um primeiro passo importante para que os produtores começassem a ponderar algumas alterações na produção de conteúdos...

    Cumprimentos.

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  5. Concordo e acrescento que toda essa astenia social, infelizmente, não é apanágio dos media, mas sim de todas as áreas da sociedade, isto é, parece não existir o mínimo de exigência, ou reivindicação, do direito de ser bem servido. Qualquer coisa basta, desde que, claro está, não altere nem incomode a velha tradição do "deixa andar".Porém, de quando em vez, lá aparece um suicida que, movido por um valor mais elevado e absorto pelo espírito da razão, exige a excelência. Este, infelizmente, por receio da segregação social, acaba por se remeter ao silêncio. É a perpetuação do velho paradigma da sociedade: "se não consegues vence-los, junta-te a eles!"

    cumprimentos

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  6. A ironia num texto é mais ou menos como a cereja numa torta. Eu adoro.
    Aqui no Brasil as coisas não são nem um pouco diferentes, apesar do que diz a Maitê. Acho mesmo que nossa grande diferença consiste na cor da pele.

    Abraço e obrigada pela presença.

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  7. Obrigado nós d. amorim.

    Sim, diferenças existirão sempre, daí resulta a identidade cultural única de cada povo. Sem essas diferenças seriamos todos iguais, partilhando espaço comum de um mundo verdadeiramente vincado pela autêntica depressão global.

    Eu gosto dessas diferenças, quando bem interpretadas faz-nos aproximar, não achas?...

    Abraço.

    Pois é marcos... Sinceramente acho que te tenho de dar razão uma vez mais, às duas por três [bolas, uma expressão de um programa sem pedagogia (--.)]dou por mim mesmo a saudar gloriosamente esse tipo de conteúdos. Se aderir ao facebook pode ser aceitável, o vício pouco pautado de recorrer ao farmville torna-se incrivelmente contra-sensual...

    Nunca um ditado fez tanto sentido...

    Mas agora mais a sério. Acho que as pessoas ainda não saíram do período do Estado Novo, sabes. Isto vai um pouco de encontro ao que dizias anteriormente, relativamente ao facto das pessoas não exigirem níveis de excelência a que têm direito.

    Durante algumas gerações todos os conteúdos com que levavam ensinavam-lhes a contentarem-se com o mínimo possível.

    Eu sou, não sei se por bem ou por mal, um optimista. Acredito que com a despedida das gerações mais velhas e a quase nula entrada de outras, mais novas, talvez a coisa venha a mudar um pouco. No entanto, não posso perder algum do meu realismo. Um realismo que me leva a crer também que, terá sempre de existir um esforço dessas novas gerações para que possa existir, de um modo genérico entre a população, um maior poder de resposta face ao que se lhes é apresentado diante dos sentidos.

    Uma coisa é certa, a acomodação é, e sempre será, a morte de uma civilização.

    Cumprimentos.

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  8. Pois é, meu caro Pedro. Infelizmente faço parte dos pessimistas, ou seja, ouvindo, como tenho ouvido certos comentários da "nova geração" (18-20) vem-me à cabeça a famosa expressão: "Mais papistas que o papa". Ultimamente tenho Ficado deveras pasmado com o teor conservador dos seus discursos. Não sei se é da região onde resido, se é um fenómeno generalizado. Uma coisa porém é certa, se assim continuar, o regresso a uma sociedade ultra conservadora, não quero cá estar para me silenciarem. Não consigo engolir essa estúpida mania de condicionar o pensamento dos cidadãos.

    De resto, estou inteiramente de acordo contigo.

    cumprimentos

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